Université Lumière Lyon 2
École doctorale : Sciences sociales
Faculté d’anthropologie et de sociologie
Universidade Federal do Ceará
Programa de Pós-graduação em Sociologia
Departamento de Ciências Sociais
La confrérie de Notre Dame du Rosaire des Hommes Noirs de Quixeramobim (Ceará-Brésil)
Identités et sociabilités
Thèse de doctorat en cotutelle de sociologie et anthropologie
sous la direction de François LAPLANTINE et Ismael PORDEUS
présentée et soutenue publiquement le 15 Octobre 2009
François LAPLANTINE, Professeur des universités, Université Lyon 2
Ismael PORDEUS, Professeur d’université, Universidade Federal Do Ceara - Brésil
Erwan DIANTEILL, Professeur des universités, Université Paris 5
Ordep SERRA, Professeur des universités, Universidade Fedral da Bahia
Jorge SANTIAGO, Professeur des universités, Université Lyon 2
Véronique HEBRARD, Ingénieur d'Études, Université Paris 1

Contrat de diffusion

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Agradecimentos

Uma conversa desinteressada sobre as irmandades negras no Ceará com a professora Isabelle Braz, do departamento de ciências sociais da UFC, transformou-se em projeto de pesquisa de doutorado. A proposta de estudar uma irmandade negra vinda dela foi mais bem consolidada quando submeti um esboço intitulado A irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Quixeramobim: sociabilidades e identidades ao curso Fábrica de Idéias, organizado pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA. A leitura atenta dos colegas participantes e dos professores organizadores do curso como Lívio Sansone, Zamparoni e Angela Figueiredo, apenas para citar alguns, desanuviou as incertezas de levar a cabo tal empreendimento. Com o encorajamento recebido deles, concluí o projeto e o submeti ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC, o qual foi aceito com unanimidade pelos avaliadores. Trazer isso à tona é um pretexto apenas para dizer muito obrigado.

A partir daí o projeto entrava em outro momento: o da reformulação, inicialmente com o professor Ismael Pordeus Jr que aceitou continuar o diálogo frutífero que iniciamos no mestrado em torno da problemática do negro no Ceará. O professor François Laplantine que me apoiou em Lyon, aceitando a direção de uma co-tutela de tese, levou-me a um redirecionamento dos objetivos iniciais da pesquisa. Com suas sugestões, o projeto conheceu uma ampliação e o que apresento agora é o resultado do diálogo que estabelecemos em torno dos aspectos metodológicos e epistemológicos da tese. A vocês também meus sinceros agradecimentos e reconhecimentos.

No momento de conclusão contei igualmente com ricas sugestões dos professores orientadores ainda do professor Ismael e do professor François Laplantine, da professora Isabelle Braz e da professora Julia Miranda que participaram da qualificação da tese. Espero ter atendido às expectativas das sugestões recebidas. No intuito também de agradecer, procurei fazer o melhor. Se o consegui foi graças a vocês.

Ao professor Martin Soares, que diariamente me fazia reconhecer a necessidade de perspicácia e imaginação para se escrever uma boa tese. Também me fazendo ver sempre mais longe do que eu mesma podia enxergar, foi inigualável. Uma forma de lhe agradecer talvez seja dizer que a tese é o primeiro projeto coletivo dos muitos que ainda vamos realizar.

Nesse momento também tive a paciente colaboração de Marcelo Campos Maia com a assessoria ao banco de dados e com sua competência lingüística para colocar os acentos graves em todos os “as”. Obrigada pelo estímulo e por me fazer crer na ilusão que tenho melhorado na escrita. Danilo, por não hesitar em me falar de suas impressões sobre minha pesquisa. Artur por ter dedicado algumas noites do seu precioso sono, organizando os mapas. Igualmente a Lana por ter me favorecido o feliz encontro com o IDACE, responsável pelos mapas de situação. Quero agradecer Liduina do Arquivo Público do Ceará pela transcrição dos documentos e a Joceny Pinheiro pelo apoio com a língua inglesa.

Reconhecer a vivacidade que os interlocutores de Quixeramobim - Fátima Alexandre, Tereza Alves, Dedim, Safira, Dora Monteiro, Raimundo, Julião e Vitoria Barrozo – trouxeram à tese talvez diminua minha dívida para com eles. Reconheço também que agradecer não é um contra-dom compatível com a dádiva recebida, mas espero que pelo menos o que escrevi faça jus a sua acolhida e abertura. A pe. Alexandre, pe. José e pe. Sérgio não apenas por terem me proporcionado acesso aos arquivos da paróquia e sim por me convidarem a partilhar os momentos íntimos de sua mesa, quero dizer da minha gratidão. Ainda devo reconhecer que nada teria sido possível se os caminhos não me tivessem sido revelados por Ailton Brasil. A você também meus agradecimentos e estima.

Em todos os momentos a Capes com as bolsas de Estágio Doutoral e de Demanda Social e a Região Rhône Alpes através do Programa MIRA deram viabilidade econômica à pesquisa. Sem esse apoio financeiro não poderia ter me dedicado exclusivamente à tese como o fiz.

Meus agradecimentos vão igualmente para os professores Erwan Dianteill, Ordep Serra, Jorge Santiago e Véronique Hébrard por terem aceitado prontamente o convite para fazer parte da banca de defesa.

Finalmente também os amigos e familiares quero lembrar por terem me encorajado direta ou indiretamente, aceitando minhas ausências sem cobranças demasiadas.

Resumo

As irmandades ou confrarias de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos floresceram no Brasil no período da escravidão, adquirindo grande interesse para os africanos livres e cativos e seus descendentes. Apesar da imposição ao culto católico que lhes caracterizava, essas associações leigas não deixaram de ser um vetor de criação de sociabilidades e de construção de identidades. Assim, poder-se-ia afirmar que elas foram um meio através do qual os negros construíram uma alternativa de existência no mundo que os acolhia, ora aceitando a religião do mestre ora incorporando rituais ou símbolos culturais que rememoravam a pertença às sociedades de onde foram compulsoriamente retirados. Essa ambigüidade talvez fosse a marca que mais lhe singularizava, pois mesmo para sua constituição e existência tinham necessariamente de receber anuência do poder temporal e espiritual através do reconhecimento de seus estatutos ou compromissos. Esses aspectos em maior ou menor grau foram revelados no estudo que agora apresento sobre a irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, estabelecida na freguesia de Quixeramobim, no interior do Ceará, Brasil, por volta de 1755, por escravos de procedência Angola. Essa representação embora tenha sido pouco engajada na sua criação e nem mesmo tenha sido assimilada pelos membros da associação ao longo de sua existência quase bicentenária, não deixou de ser problematizada com a noção grupo de procedência. Partindo dessa idéia pude também introduzir o conceito de identidade. Além dessa discussão, propus uma descrição etnográfica do processo de constituição e de funcionamento da irmandade, atendo-me à dimensão diacrônica como à sincrônica. Para essa última, o diálogo com descendentes de antigos membros da organização confrarial foi imprescindível, sobretudo ao recuperar a memória da principal sociabilidade da associação: a festa em comemoração do seu orago Nossa Senhora do Rosário.

Palavras chaves: identidade, grupo de procedência, sociabilidade, irmandade, memória, escravidão, Brasil.

Résumé

Les fraternités ou les confréries de Notre Dame du Rosaire des Hommes Noirs sont apparues au Brésil au cours de la période de l'esclavage, en manifestant un grand intérêt pour les Africains, libres et captifs, et leurs descendants. Malgré l'imposition du culte catholique qui les caractérisait, ces associations laïques n'ont pas cessé d'être un vecteur de création de sociabilités et de construction d'identités. Il serait ainsi possible de prétendre que les noirs ont élaboré, à partir des confréries les accueillant dans le Nouveau Monde, des modes alternatifs d'existence en acceptant la religion du maître et en incorporant simultanément les rituels et les symboles culturels mémorisant leur appartenance aux sociétés de provenance. Cette ambiguïté marque probablement ce qui les singularisait en particulier, d'autant plus que pour exister ces associations dépendaient nécessairement de la bénédiction du pouvoir séculier et religieux par la reconnaissance de leurs statuts et de leurs règles. Selon différentes approches, ces aspects sont présentés dans l'étude qui suit sur la fraternité de Notre Dame du Rosaire des Hommes Noirs, située dans la ville de Quixeramobim, dans l'intérieur du Ceará au Brésil, aux alentours de l'année 1755, et accueillant les esclaves issus de la région africaine de l'Angola. L'objet de la recherche, qui ne constitue nullement une revendication, une création ou une assimilation par les membres de cette fraternité au long de son existence presque bicentenaire, problématise la notion de groupe de provenance. C'est à partir de cette problématique que le concept d'identité est ici interrogé. De même, une description ethnographique du processus de constitution et d'organisation de la confrérie est présentée, attentive à ses dimensions diachroniques et synchroniques. Pour cette dernière, le dialogue avec des descendants d'anciens membres de l'organisation de la confrérie a été indispensable, surtout pour recueillir la mémoire du plus important rite de sociabilité de la fraternité : la fête de commémoration de sa patronne Notre Dame du Rosaire.

Mots clés : identité, groupe de provenance, sociabilité, fraternité, mémoire, esclavage, Brésil.

Abstract

The brotherhoods of Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos flourished in Brazil during the slavery period. They were of great interest for African people and their descendants. In spite of being characterized by the imposition of Catholic cults, these lay-led associations revealed as a means for group socialization and identity construction. In this way, such brotherhoods became a space through which black people could produce an alternative form of existence in the world. While at times they were led to accept the religion of their slavery masters, at times they embodied cultural symbols which connected them to the societies from which they had been removed. This ambiguity is perhaps one of the most visible features of this type of brotherhoods. I explore these issues in my study about the brotherhood of Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, which was established by slaves of Angolan origin in Quixeramobim, in the back-lands of Ceará, Brazil, around the year of 1755. Throughout the period of two centuries, the idea of Angolan origin has not been claimed as a central idea in the foundation and continuity of this brotherhood. Yet, it emerges in the notion of group of origin.While doing an ethnographic description of the processes involved in the making of this brotherhood, here I also introduce the concept of identity. Through my dialog with the descendants of the old members of this association I attempt to recuperate the memory of its main form of sociability: the feast of Nossa Senhora do Rosário.

Key words: identity, group of origin, sociability, brotherhood, memory, slavery, Brazil.